Se fosse comigo
Friday, October 20, 2006
  Brasileiro, ilegal
Nem dá para acreditar. Estou acomodado em uma mesa enorme, com um computador ultramoderno e tenho o dia inteiro para surfar pela internet, ouvir música e contar a meus amigos por e-mail a sorte que eu tive. Há quatro meses, eu ganho a vida nos Estados Unidos procurando sites interessantes em português e escrevendo pequenas sinopses sobre eles. Esses resumos servem para ajudar os internautas do Brasil e de outros países lusófonos a decidir se entram ou não em uma determinada página virtual. Ganho US$ 2.500 dólares por mês para fazer isso e ainda trabalho com gente de diferentes partes do planeta. Japoneses, coreanos, franceses, estadunidenses e muitos latino-americanos, que fazem o mesmo trabalho em diferentes idiomas.
Toda sexta-feira tem happy-hour na copa, com pizza e cerveja à vontade. Às vezes, chega um aviso interno de que tem sorvete ou bagles, um pão delicioso que ele comem por aqui, e sai todo mundo correndo para lá. É uma festa. E tem Kristin, uma gata inacreditável do Maine, que sempre passa sorrindo em frente à minha mesa. Estou caidinho por ela. Jamais conseguiria um trabalho assim no Brasil, tenho certeza. Quem me indicou para o cargo foi uma amiga argentina que trabalha para o time que escreve em espanhol. Ela ficou sabendo que abririam uma vaga para português do Brasil e me deu o toque. Eu só tinha duas semanas nos Estados Unidos e, com meu inglês precário não poderia trabalhar nem como garçom. Essa foi a segunda possibilidade de emprego que apareceu. A primeira veio logo na semana em que cheguei, um empresário paulista que me conheceu numa festa me ofereceu uma vaga na construçãõ civil. O trabalho era ainda mais bem remunerado, mas eu não aceitei simplesmente porque meu físico não recomenda esse tipo de atividade. Logo depois veio o paraíso em forma de ocupação profissional.
Mas nem tudo são flores. Para conseguir esse emprego tive que comprar um greencard falso por US$ 100 nas mãos dos mexicanos. Isso já é um drama em si para um cara que no Brasil sempre foi certinho e se recusa a sair mais cedo do trabalho e pedir que um colega bata o seu cartão de ponto. Os meus princípios até que podiam ser postos em segundo plano, se junto não viesse a paranóia. Vivo diariamente com a sensação de que vou ser descoberto e preso. Meu medo não é propriamente ser preso, mas acabar na base de Guantánamo, acusado de conspirar contra os Estados Unidos. Exagero, não? Outro dia fui pescar com uns amigos em uma cidade vizinha e depois que entrei no carro soube que um deles era um policial de férias na cidade. Entrei em pânico. Na semana passada, quase tive um infarto no trabalho, quando um rapaz passou pela minha mesa e largou um papel em que se lia "Migration 2006". Imediatamente olhei ao redor para ver se estava sendo vigiado. Por três segundos, pensei em sair correndo ou avaliar como me defenderia legalmente. Até que olhei para o papel atentamente e percebi que se tratava de uma mudança no sistema operacional do Microsoft Windows. Ufa.
Essa tensão permanente tem ofuscado as coisas maravilhosas que me aconteceram aqui. A maioria das pessoas com quem convivo não sabe da minha história, embora seja uma prática comum. É que quem sabe da falsificação e não denuncia ao governo também pode ser processado. Quem sabe da situação tenta me tranquilizar, dizendo que muita gente está na mesma. Uma amiga tem me aconselhado a me casar com alguém e ficar por aqui. Mas não tenho certeza se quero morar para sempre nos Estados Unidos. Pensei em ficar por um tempo até juntar dinheiro e voltar para o Brasil. Mas com essa pressão na cabeça, estou tentado a voltar dentro de dois meses, antes que vença meu visto de turista.
 
Saturday, October 14, 2006
  Alberto e sua linda visitante
Minha namorada está chegando de viagem dentro de duas semanas. Na verdade, não é um namoro fixo. Nos conhecemos há mais ou menos um ano, aqui mesmo na minha cidade quando ela estava em férias. Nosso encontro foi muito bom e, como não temos compromisso com outras pessoas, ela resolveu voltar agora para curtir um pouco mais. Eu estou levando as coisas assim, mas acho que talvez ela esteja fazendo planos para uma relação séria. Tenho essa impressão sempre que nos falamos por telefone. Ela até falou de mim para os seus amigos em Belo Horizonte. Ela é bonita, inteligente, divertida e razoavelmente independente, mas ainda assim tem aquelas coisas de que o homem é que paga a conta do restaurante, mesmo que antes de voltar para casa a gente pare em um caixa eletrônico e ela me reembolse. Acho que poderíamos até pensar em morar juntos, no futuro, mas não transamos mais do que umas cinco vezes e acho que é precipitado falar disso agora. Não quero cortar seu entusiasmo, pois realmente gosto dela. Mas também não quero fazer coisas que a incentivem a deixar o trabalho e se mudar para Salvador. Até porque aqui não seria fácil arrumar um emprego para a sua qualificação profissional. Estou numa de "devagar com o andor que o santo é de barro".
O problema, o grande problema, é que justamente agora que ela está por chegar, uma amiga me pediu que eu abrigasse, por uns dias, uma conhecida sua que veio da França, passar um tempo em Salvador. A hospedagem que ela pensava estar garantida não deu certo e a menina ficou no meio da rua, com toda a sua bagagem, assim que desembarcou do aeroporto. Quando eu vi a criatura topei recebê-la em casa imediatamente, o primeiro pensamento foi levá-la para a cama. Mas botei cara de quem está fazendo uma grande concessão e carreguei uma de suas sacolas. No máximo por dez dias, disse, ressaltando que eu receberia uma visita logo depois.
O velho lobo mau tinha em sua toca um chapeuzinho rouge de uns 19, 20 anos, do tipo jovem parisiense entediada. Se a família dela recebesse uma foto minha, olhando para a garota, pediria imediatamente que a Interpol a resgatasse do meu apartamento. Mas sosseguei o facho. Percebi que a menina estava desconfortável, ou fingia, pois achou ótimo ter encontrado abrigo no centro, perto da praia. Em pouco tempo, ela se tornou a alegria da rua. O hábito de usar calças e shorts transparentes, mostrando a calcinha em relevo, causa furor entre os caras, especialmente quando vamos ao bilhar e ela se debruça sobre a mesa para uma tacada. Eu faço cara feia, do tipo "que é que tão olhando?" e volto para o jogo. Ela provoca, esperando uma cena de ciúmes.
Para agradar ao seu anfitrião, a francesinha começou a fazer comida para quando eu retornasse do trabalho e a limpar a casa. Também gasta horas escutando meus CDs, na sala onde improvisou seu quarto. Quando o telefone toca, ela abaixa o volume e se afasta. De vez em quando, volta e se senta no sofá, ao meu lado. Está sempre sorridente e gosta de demonstrar gratidão me abraçando. Ontem, depois que minha "namorada" mineira desligou o telefone, ela encostou a cabeça no meu ombro e eu a acomodei deitada, com a cabeça no meu colo, sem que ela esboçasse uma reação. Em pouco tempo, minha mão estava percorrendo sua barriguinha e deslizando sobre os seios, que outro dia vi de relance, quando ela se abaixou para recolher uma capa de CD. Aproximei-me do seu rosto para um beijo e, quando nossos lábios se tocaram, ela se levantou correndo e começou a chorar. Não sei se está fazendo gênero ou confusa, mas sinto que ela estå doida para transar. Mas só vai fazer isso se eu disser que estou gostando dela. Eu faria tudo para levá-la para o meu quarto, até dizer que estou apaixonado, o que não é verdade. O problema é que em seis dias chega a minha visita.
 
Palpites sobre sexo, amizade e trabalho

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Location: Salvador, Bahia, Brazil

Jornalista

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