O jornalista que copiava
Trabalho no Maior Jornal do Norte e Nordeste do Brasil (MJNNB) há quase cinco anos e já escrevi sobre economia, política, empregos, automóveis, cultura, internacional, geral, Brasil, enfim, quase todas as editorias. Minhas matérias sempre foram muito elogiadas por colegas e leitores, mas eu nunca fui promovido. Continuo ganhando como um repórter em início de carreira. Essa semana, me ocorreu que não vale a pena me esforçar para fazer bons textos, já que aparentemente eu posso escrever qualquer absurdo e continuar empregado no Maior Jornal do Norte e Nordeste.
Esse pensamento me ocorreu depois que o MJNNB publicou, no sábado, dia 18 de novembro, uma errata, reconhecendo que metade de uma matéria escrita por um repórter especial (que ganha quase o dobro do meu salário), sobre o Rio São Francisco, havia sido copiada de um informativo publicado pela Marinha do Brasil no ano anterior. O repórter viajou para o interior, com direito a caixinha "e as porra", e voltou com o texto pronto de outra pessoa e o publicou, sem mudar uma vírgula. A farsa foi descoberta porque o oficial da Marinha, que escreveu o texto quando ainda servia no Rio de Janeiro, agora trabalha no setor de comunicação social do II Distrito Naval e tem por costume ler diariamente os jornais.
O oficial foi até a redação com o texto original em mãos e o mostrou aos editores do MJNNB. A partir daí, foi feita uma busca na internet e se comprovou que o repórter copia há anos textos de assessorias de imprensa, bulas de remédio e receitas de bolo. O jornal publicava os textos como se fossem de seu funcionário e, não raro, as matérias viravam manchete. Dessa vez, ao invés de navegar na internet para pescar matérias prontas, o repórter mergulhou de cabeça no universo dos marinheiros.
Com todas as provas reunidas pelo MJNNB, pensei comigo: agora o jornal vai tomar uma providência! Ainda mais depois de ter pago R$ 600 mil por ter publicado em 1997, sem a autorização do autor, uma foto totalmente descartável de um artista plástico, além de ser obrigado a republicar a foto na capa, com os devidos créditos, cumprindo decisão judicial.
Ledo engano, o repórter especial do MJNNB recebeu da direção do jornal uma segunda chance, depois de ter chorado "copiosamente" (não resisti ao trocadilho) e dito que isso não se repetiria nunca mais. Eram, digamos, águas passadas.
Como não vejo a possibilidade de receber uma promoção, estou pensando em sugerir ao MJNNB a criação de uma editoria CTRL C/CTRL V, para os momentos de aperto. Eu mesmo estou me escalando para o serviço. a nova editoriaI poderia ser de grande valia para uma empresa que não gosta de pagar hora extra. Se não dá para entrevistar uma fonte antes do final do turno de trabalho, recorre-se a uma matéria clonada. O jornal poderia contratar, inclusive, o ex-jornalista do New York Times, Jason Blair, para copiar textos em inglês. Será que vai colar?